A juventude que grita por presença

Carlos Alberto Di Franco
A adolescência, bem sabemos, é uma fase de busca de identidade. Que deve ser orientada com carinho e firmeza. Com presença e paciência. Com autoridade e amor. Um caminho que exige maturidade emocional dos pais.
A juventude quer ser escutada. Quer ser acompanhada. Quer ser compreendida. Grita por presença. E presença, no caso, não é invasão de privacidade. É diálogo. É tempo de qualidade. É uma escuta atenta e amorosa. É orientação clara. O ?não? pode ser uma forma de amar. Um ?não? que educa, que estabelece limites e mostra o valor do sim.
Não tenho dúvida de que a presença dos pais, com seu testemunho de vida e compromisso afetivo, é o fator mais importante na formação dos filhos.
O vácuo deixado pelos adultos tem sido ocupado pelas redes sociais. E aí está o problema. O vício digital, somado à instabilidade afetiva e à imaturidade de caráter, tem consequências visíveis. Casos crescentes de automutilação, explosões de raiva e tentativas de suicídio estão na pauta dos adolescentes. Triste realidade. Mas não é o fim do mundo. É hora de mudar a rota. O olhar sobre os adolescentes deve passar por uma releitura.
A adolescência não é uma doença. Não é um surto. Não é um vírus antissocial. O jovem, especialmente o adolescente, é um maravilhoso projeto de gente. Em construção. Exige, portanto, o olhar positivo do educador e a presença ativa e afetuosa dos pais. A adolescência não pode ser delegada ao psicólogo ou ao colégio. É tarefa de todos. A superação da crise ? grave, mas ainda pouco a pouco enfrentável ? passa por um resgate do papel da família. É na família que tudo começa. O lar é o coração pulsante da sociedade. Quando o coração para, o corpo morre.
A proteção do menor ? palavra de ordem de movimentos identitários ? faz sentido e é necessária. Mas proteção não significa desproteção. O excesso de direitos, com a correspondente carência de deveres, é deseducador. É preciso proteger o menor da sociedade líquida. Não se trata de censura. Trata-se de bom senso. A pornografia explícita e o lixo moral devem ser combatidos com determinação. O jovem tem direito à infância e à adolescência. Não pode ser lançado precocemente no mundo adulto. A erotização infantil ? direta ou subliminar ? é uma indecência. O amor é para ser vivido com intensidade e responsabilidade.
A fragilidade emocional e a carência de vínculos afetivos têm gerado um perigoso desinteresse pela vida. O adolescente, em muitos casos, perdeu o sentido do amanhã. A esperança secou. A ausência de valores abriu uma perigosa brecha existencial. O jovem grita por sentido. A fé pode ser uma resposta. Não me refiro ao moralismo hipócrita. Falo de uma espiritualidade com os pés no chão. O diálogo com Deus é uma âncora segura. E o diálogo com Deus se dá ? não exclusivamente, mas com força ? por meio da oração. Oração não é rezinha, mas encontro. Não é fuga, mas fortalecimento.
A juventude brasileira, majoritariamente boa, honesta e idealista, merece um voto de confiança. Há que acreditar no jovem. Ele pode ser protagonista da mudança. Mas precisa de bons exemplos. Pais dedicados são pais presentes. Professores vocacionados são professores que sabem educar.
Precisamos promover a cultura do encontro. Uma cultura de diálogo e empatia. Que o Brasil saiba escutar seus jovens. Que o Brasil saiba amar seus jovens.
DI FRANCO, Carlos Alberto. A juventude que grita por presença. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 jun. 2025, p. A2. Caderno Opinião. Edição impressa.